relembre estreia de Wagner Moura no cinema

Por sua performance em ‘O Agente Secreto’, novo longa de Kleber Mendonça Filho, Wagner Moura levou na última semana o prêmio de “Melhor Ator” no Festival de Cannes.

A premiação, inédita para um brasileiro na história do evento, reflete a consolidação do soteropolitano de 48 anos tanto no cenário do cinema nacional quanto no internacional.

Presente em diversas produções Hollywoodianas relevantes da atualidade, o ator, que começou sua vida artística nos teatros de capital da baiana, não é nem um pouco novato no mercado norte-americano. Sua estreia nos cinemas, inclusive, aconteceu no filme ‘Sabor da Paixão’ (2000) (‘Woman on Top’), falado todo em língua inglesa.

Escrito pela paulista Vera Blasi e dirigido pela venezuelana Fina Torres, ‘Sabor da Paixão’ é protagonizado pela espanhola Penélope Cruz. A atriz encarna a brasileira Isabella, uma chef da Bahia devota de Iemanjá com sérios problemas de desorientação. Após ser traída pelo marido Toninho (Murilo Benício), ela resolve deixar o país para tentar a sorte nos Estados Unidos. Na terra do Tio Sam, a cozinheira hipnotiza os homens com seus dotes culinários a ponto de ser convidada para ser a nova cara de um programa de TV gastronômico.

O longa traz Wagner Moura e o amigo Lázaro Ramos como os parceiros de Toninho, abandonado pela esposa.

Durante um painel onde foi homenageado na CCXP do ano passado, o ator falou sobre as dificuldades que ele e Lázaro enfrentaram para decorar o texto em inglês. Segundo Moura, a má experiência no set de filmagens o fez achar que essa seria sua primeira e última empreitada no cinema em toda carreira.

Como parte da história se passa no Brasil, algumas das filmagens foram realizadas na Bahia. Em 2020, durante entrevista a Gustavo Gontijo, no canal de YouTube Gabinete Digital de Leitura, Lázaro Ramos contou que Penélope não foi tão “simpática” mas gravações.

“Penélope Cruz, muito bonita, mas não tão simpática, a verdade é essa, infelizmente. Teve um dia em que ela estava almoçando sozinha numa mesa, fiz meu prato e sentei na frente dela. Na hora em que eu sentei, ela olhou para mim, jogou o garfo, levantou e foi embora sem dizer nada“, revelou o ator.

Wagner e a atriz espanhola voltariam a contracenar juntos em 2019, em ‘Wasp Network – Prisioneiros da Guerra Fria‘.

‘O Sabor da Paixão’ foi exibido em uma sessão do Festival de Cannes, fora do circuito de competição. Na época, a crítica internacional reagiu um pouco melhor à obra do que a brasileira.

Leia também: “Confinado”, suspense com Anthony Hopkins e Bill Skarsgård, estreia nos cinemas

Visão estrangeira do Brasil

Apesar do roteiro de Vera Blasi, ‘Sabor da Paixão’ não consegue escapar da visão estereotipada do Brasil, resumindo o país a festa, sexo e mística religiosa. Um dos reflexos disso pode ser observado na figura de Toninho (Murilo Benício), rapaz malandro, festeiro e impulsivo que anda para baixo e para cima cantando bossa nova.

No filme, o personagem de Benício, na voz do músico Paulinho Moska, canta diversos clássicos do gênero brasileiro mais célebre nos EUA, dentre eles ‘Falsa Baiana’, ‘Nos braços de Isabel’, ‘Sonho meu’ e ‘A flor e o espinho’.

Penélope Cruz, atriz espanhola em ascensão em Hollywood na época, dá vida à baiana Isabella. A personagem reforça a imagem da mulher brasileira/latina sensual e exótica, tendo em vista que sua culinária “apimentada” desperta misticamente o desejo e atenção de todos os homens.

A condição especial da protagonista, que tem enjoos ao entrar em qualquer meio de transporte que ela não guie ou pilote, reflete a escolha do longa em retratá-la como mulher dona de seu destino. A intenção, porém, é enfraquecida quando o gatilho narrativo é o pedido de Isabella a Iemanjá para deixar de amar Toninho e a conclusão se dá por uma nova súplica da baiana à divindade, desta vez para desfazer o primeiro pedido e voltar a amar o marido.

Leia também: Morre aos 61 anos Ed Gale, ator que deu vida ao boneco Chucky